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A FALSA ESPERANÇA

De modo geral a pessoa otimista tem mais qualidade de vida, pois este comportamento libera doses de endorfina que proporcionam bem estar. Também está comprovado que muitas doenças são evitadas quando reagimos de forma positiva aos infortúnios da vida.

Não podemos esquecer no entanto que muitas pessoas não escolhem ser otimistas ou pessimistas. Uma série de fatores são impactantes ao determinar tal comportamento. Quando alardeamos que tudo é fantástico e maravilhoso, podemos estar prejudicando aqueles que não compreendem tal linguagem porque não veem o mundo assim.

Quem conhece um pouco de psicologia, de neurociência ou mesmo de conceitos leigos sobre o comportamento humano, sabe que nascemos com determinadas tendências de comportamento. Algumas são passíveis de mudanças e outras não.

Pessoas depressivas não tem estímulo de reação, quando o quadro é profundo. Não adianta dizer simplesmente que elas precisam reagir. O cérebro muitas vezes não obedece a esta ordem, simplesmente porque alguns processos químicos não acontecem. É natural que os depressivos tenham uma percepção mais pessimista do mundo que os rodeia e eles não tem culpa disto.

A pessoa radicalmente otimista pode simplesmente ignorar riscos reais e também colocar outras pessoas em risco. Muitos negócios não prosperam ou nem conseguem dar os primeiros sinais vitais, em razão de uma desproporcional dose de otimismo desprovida de um mínimo de análise e razão.

(Dica do editor: Assista ao vídeo –  Neurociência e sua aplicação no mundo corporativo.)

O filósofo e escritor inglês Roger Scruton, autor do livro “AS VANTAGENS DO PESSIMISMO E O PERIGO DA FALSA ESPERANÇA.” chama a atenção para a responsabilidade que precisamos ter ao tentar motivar artificialmente as pessoas. Os processos que visam o otimismo, o engajamento e a motivação precisam ter consistência e racionalidade.

Semear a falsa esperança pode ser tão nocivo como semear a tragédia e a desesperança

Outra situação a ser destacada é a de que algumas profissões requerem pessoas com perspectivas mais pessimistas. É o caso daqueles que trabalham com atividades que exigem análises baseadas na razão, como finanças, controladoria, advocacia e uma série de outras de elevada importância social.

Devemos ficar atentos ao equilíbrio que as forças precisam ter. Não perceberíamos a beleza de um  dia ensolarado se o astro rei aparecesse incansavelmente todos os dias. A valorização do bem é notada porque presenciamos o mal em nosso cotidiano. Deus existe principalmente porque somos frágeis e necessitamos de apoio contínuo em nossa caminhada. Não é por acaso que Ele é chamado de LUZ DO MUNDO.

Em seu excelente livro O NOME DA ROSA, Umberto Eco, narra a investigação do frei franciscano Guilherme de Baskerville, protagonizado no cinema por Sean Connery.  A história se passa num mosteiro medieval e Guilherme é encarregado de investigar uma série de assassinatos misteriosos em que as vítimas são envenenadas.

Ao desvendar os crimes e descobrir que as pessoas são envenenadas quando passam o dedo na língua e folheiam o livro, ele pergunta a Jorge de Burgos: “Por que você fez isto? Por que envenenastes as páginas deste livro que ceifou tantas vidas?” E ele responde: “O livro de Aristóteles, este que eu envenenei, fala que o homem deve viver sem medo e ser plenamente feliz em sua vida aqui na terra…” Guilherme o interpela e pergunta: “Mas que mal há nisto?.” Jorge dá a seguinte resposta: “Se o homem deixar de ter medo ele não precisa mais de Deus e não haverá mais equilíbrio entre as trevas e a luz.”

A luz é tão importante quanto a escuridão. Uma não existe sem a outra. Precisamos cuidar com o radicalismo que fortalece somente o otimista, o belo, o perfeito, o politicamente e incansavelmente correto.

É no equilíbrio que as forças se conectam. Semear a falsa esperança pode ser tão nocivo como semear a tragédia e a desesperança.

Nossa responsabilidade está em mostrar a realidade e fortalecer as pessoas para que possuam forças suficientes para enfrenta-la.

  1. Fique atento as mensagens subliminares deste texto.

“A única prova que vejo do demônio é o desejo de todos em vê-lo atuar.”

Guilherme de Baskerville do Romance O NOME DA ROSA de Umberto Eco.